Cessão de crédito em cobranças: como se defender


A cessão de crédito é um negócio jurídico legal, legítimo e comum, mas não são poucos os casos em que seu uso vem junto com todo tipo de abuso na cobrança. Leia nosso artigo, entenda mais sobre o assunto e saiba como se defender de abusos!

No âmbito do Direito do Consumidor, a cessão de crédito é uma prática comum, na qual uma empresa ou instituição financeira transfere a terceiros o direito de receber determinada dívida.

Embora essa prática seja legítima e legal, infelizmente, alguns casos de cobrança abusiva surgem quando ocorre a cessão de crédito.

Neste artigo, abordaremos os abusos comuns e forneceremos orientações valiosas para os consumidores brasileiros sobre como se proteger dessas práticas.

O que é a cessão de crédito?

A cessão de crédito é um negócio jurídico regulamentado pelos pelos artigos 286 a 298 do Código Civil .

Por meio dele, uma pessoa cede a outra algum crédito que tenha contra uma terceira pessoa.

Alguns exemplos:

Nos três casos, houve cessão onerosa de crédito, pois ele foi trocado por dinheiro. Existem, também, cessões gratuitas de crédito:

Neste artigo, vamos nos concentrar nas cessões onerosas de crédito, porque se trata de um ramo de negócios bem estruturado e legalmente regulamentado, mas também com participação de agentes desconhecedores dos direitos dos devedores, capazes de todo tipo de abuso. Nosso foco será, mais precisamente, na cessão de crédito como uma forma de “venda de dívida”.

Por que se vendem dívidas?

A lógica por trás da “venda de dívidas” é muito simples.

Toda cobrança de dívida tem custos operacionais.

Digamos que a cobrança de uma dívida seja feita por carta, e-mail e telefone. Há o custo com envelope, papel e selos. Há o custo com acesso à internet, computadores, infraestrutura de rede. Há o custo com linhas telefônicas disponíveis, aparelhos telefônicos, centrais telefônicas, headsets, etc. E há o custo com a mão-de-obra necessária para colocar tudo isso em movimento, atuando de forma quase exclusiva nesta operação.

Digamos que a cobrança de uma dívida seja levada ao Judiciário. Além dos custos anteriores, há as custas processuais e os honorários de advogado.

Nos dois casos, há o fator tempo.

Com tantos custos envolvidos, o valor das despesas com cobrança tende a acumular-se e crescer, pode até sair mais caro do que a própria dívida se não houver controle de custos.

Trocando em miúdos: a depender da situação, cobrar uma dívida é quase como queimar dinheiro.

Por que, então, dedicar-se a cobranças?

Uma solução seria simplesmente terceirizar a atividade. Entretanto, a própria terceirização tem custo operacional elevado.

É mais fácil, então – usando uma metáfora conhecida – “passar a batata quente” para quem aceite se arriscar a queimar as mãos antes de comê-la.

Um exemplo de cessão de crédito por instituição financeira

Se um banco é credor de uma dívida de R$ 5 mil, é melhor vendê-la por R$ 2 mil e passar o problema para a frente que gastar R$ 2 mil para cobrá-la e não receber nada.

Para isso, a instituição financeira avalia sua carteira de operações de crédito, seleciona aquelas de liquidação mais duvidosa — tratamos dos chamados créditos de liquidação duvidosa num artigo bastante detalhado —, põe na ponta do lápis o quanto custaria cobrá-las até o efetivo recebimento e, se o custo não valer a pena, põe à venda os títulos de crédito referentes a elas, mesmo que por um valor muito menor que o original da dívida.

Não faz sentido para as instituições financeiras, por simples questão de gestão de recursos (financeiros, materiais, humanos, etc.), desviar-se de sua atividade principal para cuidar de recuperação de crédito. É mais interessante vender os créditos de liquidação duvidosa, recuperando ao menos parte de seu valor, que mobilizar recursos para recuperá-los por conta própria.

Além disso, como instituições financeiras precisam mostrar seus resultados para o mercado, vender o máximo possível dos créditos de liquidação duvidosa é forma de melhorar o resultado contábil, pois os créditos de liquidação duvidosa, em linguagem simples, não são contados como direitos a receber, mas como prejuízo.

Cessão de crédito e o negócio da recuperação de crédito

As dívidas à venda são disputadas pelos chamados agentes de recuperação de crédito: empresas de cobrança, escritórios de advocacia, startups e fintechs de recuperação de crédito, etc.

Essas empresas se especializam em recuperar créditos. Exemplos:

Nosso foco serão as empresas especializadas em comprar dívidas.

Para essas empresas, a compra de créditos é um negócio de retorno arriscado, mas rentável. Os créditos de liquidação duvidosa podem compor a totalidade de sua carteira de créditos, ou podem ser parte de uma carteira de créditos mais diversificada. De um modo ou de outro, o valor que conseguem recuperar deve ser sempre maior que o valor que desembolsaram para comprar as dívidas.

Para ilustrar, imagine-se uma empresa de recuperação de crédito que comprou por R$ 5 milhões de um banco um “pacote” de “títulos podres” cujo valor original, somados todos os títulos, é de R$ 10 milhões. Se a empresa conseguir recuperar somente 60% desse valor original (ou seja, R$ 6 milhões), já terá conseguido lucro de R$ 1 milhão.

O negócio, aparentemente, é bom para todas as partes envolvidas — menos para o devedor.

Cobrança abusiva na cessão de crédito

A cessão de crédito é uma forma de negociação que permite às empresas recuperarem seus créditos de forma mais rápida. Entretanto, alguns cessionários acabam agindo de maneira abusiva ao realizar a cobrança, desrespeitando os direitos dos consumidores.

É fundamental que os consumidores estejam cientes de seus direitos e saibam como se defender dessas práticas indevidas.

Exemplos de abusos na cobrança:

Conheça seus direitos e se defenda!

É fundamental que o consumidor esteja familiarizado com o Código de Defesa do Consumidor, que estabelece os direitos e deveres de ambas as partes na relação de consumo. Informe-se sobre as leis e normas que protegem o consumidor contra práticas abusivas.

Conclusão

No Direito do Consumidor, é essencial que os consumidores estejam cientes de seus direitos e saibam como se defender de práticas abusivas na cobrança baseada em cessão de crédito.

Infelizmente, alguns cessionários agem de forma abusiva, ameaçando e cobrando valores indevidos dos consumidores.

No entanto, com conhecimento e informações adequadas, é possível proteger-se dessas práticas e fazer valer seus direitos.

Não hesite em buscar auxílio jurídico especializado caso se depare com cobranças abusivas, pois um advogado capacitado poderá orientar e representar o consumidor na defesa de seus direitos.



Temas desse artigo:
Direito CivilDireito do Consumidor cobrança abusiva cessão de créditorecuperação de crédito

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